Exemplos que arrastam: o olhar de pai que trouxe o acolhimento ao TEA à PMPR 15/08/2025 - 14:52

No coração da Polícia Militar do Paraná (PMPR), a disciplina e o rigor do quartel ganham um novo significado. O tenente-coronel Valter Ribeiro da Silva, que atua diretamente no Comando-Geral, nos convida a enxergar a farda de uma forma diferente, uma que se entrelaça com as lições mais profundas de sua vida pessoal. Sua jornada como pai de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não só redefiniu sua visão de mundo, mas também se tornou a base para uma iniciativa pioneira na corporação: a criação de um protocolo de atendimento especializado para pessoas com autismo.

Para Valter e sua família, o momento do diagnóstico foi um choque. "Foi muito difícil, especialmente por conta das incertezas do tratamento e do futuro", ele recorda. Diante do desconhecido, a família buscou apoio e, principalmente, conhecimento. A jornada de aprendizado foi intensa, com leituras, palestras e muita pesquisa para entender o que era o autismo e como lidar com ele.

A experiência o transformou em um "pai atípico", como ele mesmo se descreve. "Quando você se torna 'pai atípico', a mudança é maior", afirma. Essa nova perspectiva o fez valorizar pequenos progressos em vez de grandes feitos, e a querer apenas que seu filho seja aceito na escola, com suas particularidades. "Essa visão de mundo impactou a minha visão profissional na corporação, não tenho dúvidas disso", explica.

Perceber que seus colegas, assim como ele no início, não sabiam o que era o autismo, o levou a uma missão pessoal: usar sua experiência para sensibilizar e informar o efetivo. A bagagem de pai se tornou uma ferramenta para humanizar ainda mais a PMPR.

PIONEIRISMO E INCLUSÃO - A sensibilidade dele se materializou e nasceu após uma demanda apresentada por uma família, e Valter teve a honra de integrar a comissão que criou os protocolos. O protocolo com o objetivo claro de capacitar os policiais para identificar, abordar e atender pessoas com autismo de forma adequada e empática.

A formação começou nas escolas de soldados e, em seguida, a PMPR gravou palestras e vídeos para sua plataforma de ensino à distância, garantindo que a informação chegasse a todos os policiais do estado.

O impacto da iniciativa é incalculável. "Durante o treinamento, já observamos alguns relatos de policiais que, após passarmos algumas características da pessoa autista, começaram a identificar alguns traços nos filhos ou em algum parente próximo", conta Valter. Além disso, o protocolo também resultou em um aumento nos registros de ocorrências envolvendo pessoas com autismo, o que é crucial para a formulação de políticas públicas e para garantir que a justiça seja feita.

O modelo da PMPR já é referência para outras instituições, como a Escola de Governo de Pernambuco, mostrando que a empatia e o pioneirismo podem se espalhar. Para o futuro, Valter acredita que o caminho é continuar instruindo o efetivo para que as pessoas recebam o atendimento que merecem, afinal de contas, todos nós somos detentores de direitos.

EXEMPLOS - A 3º sargento Vanessa da Rocha Alves Vieira está há 19 anos na PMPR e expressou sua satisfação com o curso de capacitação sobre autismo. Atuando no 3º Comando Regional da Polícia Militar (CRPM), ela é mãe de dois filhos, sendo o mais velho, João Pedro, de 6 anos, diagnosticado com transtorno do espectro autista. “Como mãe de uma criança autista e também policial militar, fiquei extremamente contente com o curso de capacitação sobre autismo,” afirmou a sargento. Ela destacou que a experiência ampliou seu conhecimento, proporcionando novas formas de compreender e agir, e oferecendo ferramentas práticas para o seu cotidiano. “Somado a isso, trouxe-me tranquilidade saber que meus colegas policiais aprenderam a identificar sinais de autismo, evitando que atitudes incomuns sejam interpretadas como desobediência ou ameaça,” concluiu.

Já o 3º sargento Eleandro de Almeida, atualmente no 4º Batalhão de Polícia Militar (BPM) em Maringá e 19 anos de serviço, compartilhou sua experiência após ser diagnosticado com autismo e altas habilidades em 2024. “Foi muito importante entender que eu era diferente das outras pessoas,” relata o sargento, que alega que diagnóstico serviu um ponto de virada e o ajudou a identificar suas dificuldades e a se adaptar a elas.

Ele expressa gratidão pela iniciativa da PMPR em oferecer o curso de capacitação sobre autismo, que, segundo ele, demonstra a sensibilidade necessária para lidar com a população. "Por estarmos constantemente em contato com a população, nos deparamos com situações envolvendo pessoas autistas," afirma. O sargento destaca a importância de ter conhecimento sobre o transtorno para humanizar o atendimento e acolher esse público vulnerável, ressaltando que isso também o ajudou a entender melhor a si.

ESPERANÇA - o tenente-coronel pede a sensibilidade de outros pais de crianças com autismo: "Acreditem nos seus filhos! Eles têm muito potencial. Estudem, pesquisem e não aceitem o conformismo de alguns profissionais." Ele também faz um apelo aos pais que não têm filhos autistas para cultivarem a empatia, pois nunca se sabe quando um colega de trabalho pode ter passado a noite em claro com um filho em crise.

Centro de Comunicação Social PMPR

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