Mulheres integram a Polícia Militar do Paraná há 41 anos e ocupam cada vez mais funções destacadas 08/03/2018 - 18:20

Por Marcia Santos
Jornalista PMPR

A mulher que protege nossas famílias, nosso patrimônio, nossa vidas, sem hora e nem certeza de que vai voltar para sua casa, acumulando papel de mãe, esposa e profissional seria mesmo o sexo frágil? Na Polícia Militar do Paraná há 41 anos, as mulheres militares estaduais lutam lado a lado com os homens da sua categoria, e ocupam postos e graduações de soldado a coronel, nas mais diversas regiões do estado. Hoje elas compõem quadros operacionais, na área da saúde, em batalhões de área, unidades especializadas e serviço administrativo.

Uma mulher de destaque na PM do Paraná é a coronel Audilene Rosa de Paula Dias Rocha, que hoje é Chefe do Estado Maior da Corporação, a terceira na estrutura da Polícia Militar do Paraná. Ela está na instituição desde 1985 e faz parte da terceira turma da Escola de Oficiais. “Tivemos avanços muito importantes nos últimos anos, mas queremos ter a oportunidade de exercer todas as funções na PMPR e isso está ocorrendo e ocorrerá mais ainda gradualmente”, avalia.

“O valor profissional da mulher na corporação vem sendo reconhecido no decorrer dos anos, antes era mais restrito”, disse a coronel que já Comandou, por um período, o 8º Batalhão da PM, em Paranavaí (norte) e ocupou outras funções importantes como Chefia do Estado Maior do 3º CRPM, em Maringá (PR), e Coordenação de Segurança da Vice-Governadora Cida Borguetti.

Para a Chefe de Planejamento do 20º BPM, major Isabel Cristina Muzeka, atualmente a PMPR é uma das instituições mais abertas à igualdade de gêneros e promoção do desenvolvimento profissional feminino. “Há 33 anos, ao ingressar na PM, tínhamos uma condição de muitos deveres e poucos direitos, esse fator impedia um crescimento equânime na carreira da mulher PM. Hoje temos iguais condições de desenvolvimento na carreira, ganhamos o mesmo que os homens nos mesmos postos e graduações, possuímos um quadro único de promoções, onde o critério é o preparo técnico e o merecimento, e não a questão de gênero”, explica.

A Capitão Ivane Jenk, que está há três anos na Agência Central de Inteligência (ACI), por sua vez, foi a primeira mulher da Polícia Militar do Paraná a frequentar e concluir o curso, do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) – na época Choque –, chamado Controle de Distúrbios Civis (CDC), em 2007. “Desempenhamos as mesmas funções que os homens hoje na corporação, em outros momentos houve mais resistência, mas hoje caminhamos para avanços mais significativos”, disse a oficial, que tem 21 anos de corporação.

Chefe da subseção de transportes da PM, a capitão Dalva Rosane Felipack, que ingressou na corporação em 1999, diz que é um orgulho ser policial militar. “Vejo que lutamos muito e durante esse tempo fomos cada vez mais aumentando nossa participação na Polícia Militar. Temos nosso espaço na Polícia Militar, em todas as atividades, tanto no serviço administrativo como no operacional, e desempenhamos com a mesma qualidade, produtividade e eficiência que o efetivo masculino”, ressalta. “Me orgulho muito de pertencer à Polícia Militar, de ser mulher, de ter passado por todo o por todo processo seletivo, teste físico, psicológico, ou seja, por todas as etapas do concurso e ter logrado êxito”.

Além das funções de Comando, a corporação conta hoje com mulheres que se destacam em atividades consideradas masculinas devido à exigência de grande esforço físico, no serviço operacional (nas ruas). Neste campo, a soldado Marcia Falkievicz, que compõe há a ROTAM (Rondas Ostensivas Tático Móvel) do 20º Batalhão, situado na capital, há cinco anos, é um dos exemplos. “Nos dedicamos em nossas atividades, seja na Radiopatrulha ou, como no meu caso, na ROTAM sempre em prol da comunidade; somos tratadas com respeito”, garante.

Para a Soldado Diana Oliveira Contador, que ingressou na corporação em 2013, e hoje atua na Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (ROCAM) do 17º Batalhão da PM, “é um orgulho estar na ROCAM, em outras unidades já trabalhei com motos e me sinto realizada. É necessário ter uma mulher trabalhando na rua, pois no crime também há mulheres e há momentos em que a atividade exige a nossa presença, como no caso de fazer uma revista íntima. É bacana atuar na rua em prol da sociedade. Meu sonho era ser policial militar, muita gente duvidou da minha capacidade, mas conquistei meu espaço”, explica. “Tenho duas filhas e se elas escolhessem esta profissão eu ficaria muito orgulhosa, pois é uma honra proteger a sociedade”, complementa.

Nos 12 km de rodovias estaduais, a coisa não é diferente, a mulher é atuante em motos e viaturas: “Cada dia se torna mais forte a paixão pela polícia, desenvolvo meu trabalho todos os dias como se fosse a primeira vez”, descreve a soldado Adriana Gomes de Araújo, que atualmente trabalha no Posto Rodoviário de Palotina. “Eu sempre quis ser polícia”, completa a policial, única mulher do batalhão rodoviário que faz escoltas de grande porte, como foi na delegação da Tocha Olímpica e da Copa do Mundo. Ela também já fez escolta de presidenciáveis.

Antes de ser PM, a soldado Juliana Lima Nakamura trabalha em um salão de beleza. “Sempre tive admiração pela Polícia Militar e se tornou um sonho, desde criança e isso me fez tentar o concurso. Meu namorado à época [agora meu marido] sabia da minha paixão e quando viu o edital me incentivou a fazer. Foi um sonho que se tornou realidade”, relembra. “Hoje, sendo policial, minha vida mudou completamente, além disso sou muito bem acolhida”, completou a policial que trabalha no serviço administrativo atualmente, no quartel do Comando Geral.

HISTÓRIA – De acordo com artigo da oficial e primeira tenente-coronel, Rita Aparecida de Oliveira, em 19 de abril de 1977, por meio do Decreto Estadual nº 3.238, foi criado o pelotão de Polícia Militar Feminina, com a inclusão e matrículas de 42 recrutas, selecionadas para o 1º Curso de Formação de Sargentos PM Fem, do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP). Ela era uma delas. Desde então, o Paraná passou a ser o segundo estado do país que permitiu o ingresso da mulher na sua Polícia Militar, depois de São Paulo. A maioria delas foi incluída em 20 de outubro de 1977.

O primeiro o CFS PM Fem, também o primeiro na história da PMPR, realizou-se no período de 07 de novembro daquele ano até 16 de junho de 1978. Formaram-se 27 sargentos policiais femininas, sendo as quatro primeiras colocadas promovidas à graduação de 2º e as demais a 3º sargentos. Em 1979 iniciaram-se na Academia Policial Militar do Guatupê (APMG) e no CFAP, respectivamente, os primeiros Cursos de Formação de Oficiais e de Formação de Soldados da PM Fem. E, em 1980, foi a vez do Curso de Formação de Cabos PM Fem. Todos pioneiros no Brasil.

A organização de Polícia Militar Feminina tinha, inicialmente, e em decorrência da lei Estadual nº 6.774/76, a missão de policiamento ostensivo, atuando na segurança pública principalmente no que se refere à proteção de menores, mulheres e anciãos. A partir de agosto de 1981 tudo começou a mudar. Pela primeira vez no Brasil as policiais militares foram aplicadas no policiamento de trânsito, segundo artigo da tenente-coronel Aparecida.

No primeiro semestre de 1982, em razão da necessidade de se expandir o policiamento feminino para o interior do estado e saindo mais uma vez na frente, criou-se o Pelotão PM Fem na cidade de Londrina. Em 1983, as cidades de Maringá e Ponta Grossa também foram agraciadas com a presença da mulher policial militar. No ano de 1984, foi a vez de Cascavel, e Foz do Iguaçu, em 1988. Posteriormente, foi a cidade de Guarapuava, e depois um pelotão com efetivo específico para o então Centro de Operações Policiais Militares (COPOM).

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